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domingo, 13 de maio de 2018

Maçonaria a sua história e referências ao Concelho de Arronches

O Prof. Dr. António Ventura nasceu em Portalegre em 1953. Professor Catedrático de nomeação definitiva do Departamento de História da Faculdade de Letras de Lisboa, e que “aqui em Arronches, em formas muito precárias deu aulas”, como referiu.

Director da Revista da Faculdade de Letras de Lisboa. Director do Centro de História da Universidade de Lisboa. Académico Correspondente da Academia Portuguesa da História proferiu ontem à tarde, no Centro Cultural de Arronches, uma conferência sobre a história da Maçonaria na qual fez também algumas referências a Arronches. 
O Vice-presidente da Câmara Municipal de Arronches, João Crespo (que foi seu aluno no liceu), foi o anfitrião e fez a introdução do conferencista. Foi uma verdadeira lição da história da Maçonaria e, também, de alguns períodos da história de Portugal, em que ao maçons participaram de forma umas vezes menos e outras mais activamente. Fê-lo não sob o papel assumido de maçom mas, com a integridade e verticalidade da sua personalidade e investigação histórica. Uma conferência direccionada (pelo público na sala) àqueles que verdadeiramente estão interessados nestes aspectos. 
O Professor começou por fazer uma análise a certa imprensa sensacionalista. Mostrando exemplares onde os princípios e bases da maçonaria estão desvirtuados. Isto porque mais à frente na sua conferência, referiu que os princípios da maçonaria vão no sentido do Homem ser cada vez melhor e, que essa busca da melhoria, se venha a reflectir na própria sociedade. 
O conferencista foi buscar os primórdios do aparecimento da maçonaria, sobretudo na idade média. O maçom era o homem que trabalhava a pedra, sobretudo na construção das grandes catedrais que levavam décadas a serem construídas – Igreja de S. Miguel em Florença, entre os anos 1300 e 1400. Os mestres desta arte de trabalhar a pedra e também a madeira, materiais que imperavam por essa época, seriam os mais capazes na construção dessas obras e que se instalavam em estaleiros. Era precisamente nesses estaleiros, que num local que viria a ser denominado como loja, que se reuniam a exemplo daquilo que ainda hoje se faz entre engenheiros, arquitectos e outros técnicos nas construção de obras. Daí o esquadro e o compasso aparecerem nos símbolos da maçonaria. Sempre apoiado em documentação recolhida, o Professor Dr. António Ventura, conseguiu que os presentes tivessem uma melhor percepção da história da maçonaria. 
Atribuir à maçonaria ser uma sociedade secreta, onde apenas os mais poderosos tinham lugar, foi desmontada essa teoria, pelos factos como o analfabetismo, que seria então na casa dos 90%.Logo por aí, coarctava a possibilidade de ser maçom porque uma das regras a observar era o saber ler, para poder interpretar os princípios e rituais da maçonaria. Nesse sentido, os restantes 10%, seriam concerteza os homens mais influentes no meio em que se moviam e nos vários países.
Na opinião do historiador a maçonaria pese a evolução dos tempos, teve como o seu pilar na Escócia, disseminando-se depois por países como a Inglaterra, França, Alemanha ou Itália, chegando a Portugal muito mais tarde. 
O terem sido maçons figuras proeminentes das monarquias, altas patentes militares, no caso dos Estados Unidos, onde tem uma grande implementação, muitos dos seus presidentes terem sido maçons assumidos como George Washington, sendo o Presidente Obama o último deles, imputou à Maçonaria, esse “simbolismo” associado ao poder nas decisões políticas.
O professor deu como exemplo que hoje, na maçonaria há em Portugal, existem pessoas dos mais vários quadrantes políticos que podem ir desde o CDS ao Bloco de Esquerda. Logo cai pela base essa teoria que alguns defendem do poder dos maçons, quando existe essa pluralidade.
Os vários períodos da história em que os maçons foram perseguidos e espoliados, como a destruição dos seus arquivos aquando dos assaltos às suas lojas, ou os períodos mais favoráveis à sua existência, como por exemplo da vigência do Marquês de Pombal, de quem diziam ser maçom mas que o professor tem dúvidas, foram eles uma lição também da nossa história enquanto país que passou pela monarquia, chegou à república (com guerras pelo meio) e a que a maçonaria, quer na clandestinidade, quer admitida pelos vários poderes passou. 

As referências a Arronches


No entanto o que era aguardado pelos presentes com alguma expectativa, era saberem o que o Professor Dr. António Ventura tinha para lhes revelar sobre as referências a Arronches. 
Começou por afirmar que Lojas, em que eram necessários sete Mestres, apenas Elvas e Portalegre em determinado período existiram. Já quanto aos Triângulos que, apenas necessitavam de três Mestres, elas existiram em muitas localidades do Norte Alentejano que enumerou. No caso concreto de Arronches referiu “O grande comício republicano em Arronches que teve lugar a 7 de Agosto de 1910 e que contou com a presença de Bernardino Machado.
A criação do Triângulo de Arronches tem lugar a 12 de Abril de 1917 e passa a ter o Nº 12, sob o rito Escocês Antigo e foi constituído sob os auspícios do Grémio Luso-Escocês, sendo a iniciativa do Capitão João Augusto da Costa, antigo Venerável da Loja Miguel Bombarda de Portalegre.
Com membros identificados do Triângulo de Arronches, estavam Joaquim Manuel de Almeida Castelhano que, nascido em Nisa, viria a falecer em Arronches na Freguesia de Assunção. Também António Mendes Mota, nascido no Crato, foi comerciante em Arronches e fez parte do Triângulo Nº 12 e que tinha o nome simbólico de “José Estevão”, falecendo também em Arronches em 1953.
Houve no entanto outros arronchenses que foram maçons noutros locais como José Félix Ribeiro, Francisco Félix Tavares Magro, António Félix Ribeiro, engenheiro formado na Alemanha, cronista no jornal “A Fronteira” de Elvas e membro do Conselho Regional da Casa do Alentejo, entre outros cargos de destaque que desenvolveu ao longo da sua vida, que terminaria a 2 de Agosto de 1963 em Lisboa. Também o Tenente-coronel Miguel de Almeida Santos figura proeminente como chefe do gabinete do Ministro da Guerra, Norton de Matos e Joaquim António Rijo, nascido em Arronches (Assunção) e que foi comerciante em Lisboa.
No final foi estabelecido o diálogo entre a plateia e o conferencista com intervenções de Diogo Júlio, Gil Romão. Dr. José Ricardo, José Botelheiro, entre outros. Como a intervenção do Professor começou por fazer alusão à imprensa sensacionalista, o N.A. colocou ao professor a questão se essa especulação jornalística não se deve também um pouco, ao hermetismo dos Maçons em não se assumirem como tal; à falta do contraditório a que têm direito e, por último, não haver da parte da maçonaria uma maior aproximação ao cidadão comum com conferências ou palestras como a que realizou em Arronches. Questões com as quais o professor concordou. Deu até como exemplo a posição de António Arnaud, que defendeu sempre essa posição de assumir a condição de maçom.