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domingo, 3 de junho de 2018

Colóquio/Debate - O brinquedo, brincar… e ser fastidioso

Já aqui o tínhamos escrito que era louvável esta iniciativa organizada pela CDU- Arronches, no Museu de (A) Brincar, ontem à tarde. Até porque no dia anterior, se tinha celebrado o Dia Mundial da Criança. 

Este Colóquio/Debate que durou mais de três horas, apenas teve colóquio, porque o debate não existiu e a parte final foi enfadonha.
O moderador apresentou os participantes e deu a palavra ao vereador Paulo Furtado, que justificou a ausência da Presidente Fermelinda Carvalho. Recordo o vereador, numa pequena abordagem os seus tempos de infância, as suas brincadeiras de criança que o ajudaram a desenvolver capacidades a vários níveis e, que hoje mesmo como pai, lhe dão a noção perfeita da importância da criança brincar. 
Ana Paula Travassos foi a primeira interveniente do painel de convidados para este evento. Como directora do Agrupamento de Escolas de Castelo de Vide, começou por dar destaque à carga horária das crianças (pré-escolar) entre oito e nove horas diárias. Apontou depois para as causas e efeitos desta carga horária e a criação das Actividades Extra Curriculares (AECs) que, a seu ver, não são mais do que um encargo para os Municípios, através também das AAFs (Apoio de Actividades às Famílias) que no seu conjunto se constituem num “depósito” de crianças, onde são colocadas até que os pais as possam ir buscar. Enumerou vários casos testemunhais no agrupamento que dirigi, deixando algumas pistas. Não deixou de frisar os problemas traumáticos que tudo isto provoca nas crianças. Deixou a interrogação de que “isto não é saudável para as crianças mas, o que é que os pais fazem?”. Deu como exemplo o que se passa em países do norte da Europa. Desses exemplos citou um, que um seu amigo que esteve na Holanda, no âmbito do programa Erasmus lhe contou. Numa escola que visitou, estavam colocados uns sacos de boxe, onde as crianças “despejavam” o stress acumulado, garantindo que vai aplicar esse método na sua escola. 
Luísa Araújo do Secretariado do Comité Central do PCP, para além de dar destaque à necessidade da criança brincar, deu ênfase a este Museu para “os direitos da criança, para a comunidade local e a promoção do património histórico e local”. Destacou na sua breve intervenção três pontos que abordavam o tema do colóquio/debate: A criação dos direitos da criança e das famílias nos planos económicos e social; as políticas para os trabalhadores e as famílias e a valorização e promoção do Museu (A) Brincar no âmbito do desenvolvimento do concelho.
Como não podia deixar de ser, a sua intervenção teve também o cunho político/partidário, puxando pelo contributo que o seu partido tem dado ao longo dos anos no plano do ensino em Portugal.
Sabendo nós que, ao longo de mais de 40 anos de democracia, sempre houve ministros mais contestados, fossem eles da direita ou do centro esquerda, como os ministros das finanças, educação ou do trabalho e segurança social, sem nunca existirem consensos. Houve sim pouca, muito pouca intervenção da sociedade civil na hora das decisões, limitando-se apenas à intervenção sindical.
Durante estas intervenções o moderador Filipe Batuca, ainda colocou algumas questões, passando depois para o painel seguinte. 
O contributo de Diogo Serra bem conhecido da plateia, por ser arronchense, foi na realidade muito interessante, em especial para os da sua geração que se deleitaram com a panóplia de recordações das brincadeiras, brinquedos e jogos. O espírito inventivo que esse mesmo jogos despertavam nas crianças, dos quais com a colaboração de figuras bem conhecidos em Arronches, alguns deles infelizmente já ausentes, mas sempre presentes na recordação das várias gerações. Na intervenção do animador cultural, que ao longo de 14 anos foi vereador na Câmara Municipal de Arronches, ficou patente que o brincar para a criança é essencial, posto que está subjacente, o que é correcto ou menos correcto, fazer dentro dessas mesmas brincadeiras.
Luísa Rita considerou que "politicas à parte, porque não está sujeita a politicas ou credos religiosos, que estava no local certo à hora certa" para ser incumbida de durante três anos iniciar este projecto que é hoje o Museu de (A) Brincar. 
A primeira responsável por este museu, levou-nos a uma viagem pelo tempo em que esteve em Arronches a desempenhar estas funções Dizendo mesmo que foi uma pessoa de sorte, pois fazia um trabalho que lhe dava prazer e ainda ser paga para isso. Se não fôra o necessitar de um ordenado para viver, tinha-o dispensado, tal foi o prazer que este projecto lhe deu e, ao qual, se entregou de alma e coração. Lembrou que nem sempre foi um trabalho fácil, até porque não é uma expert em brinquedos. Comprou algumas guerras mas o resultado de todo esse trabalho, traduziu-se e traduz-se, na importância que este museu teve e tem no contexto museológico, tendo mesmo sido reconhecido pelas instâncias superiores. Recordou ainda o papel que, em determinada altura o Centro Lúdico desempenhou, hoje preterido em “favor” das AECs, estando nesse aspecto em consonância com os intervenientes que a antecederam neste colóquio. Durante algumas passagens da sua intervenção, chegou mesmo a emocionar-se.
Era suposto que, num colóquio/debate, fosse atribuído um determinado tempo para cada intervenção mas, nada disso aconteceu. Mesmo assim as intervenções até decorriam a bom ritmo. No entanto a intervenção do psicólogo Carlos Casaquinha, esteve por vezes fora do contexto, “submetendo” mais os presentes a uma aula de história, do que à problemática do tema em debate. Prolongou por mais de uma hora a sua intervenção, notando-se até um certo desconforto nos rostos quer dos elementos da organização como dos presentes. Em nossa opinião (vale o que vale), cabia aqui o papel do moderador que, ao não estar presente Patrícia Candeias, por motivos profissionais, podia ter feito uma chamada de atenção ao orador.
Ao prolongar-se este colóquio por mais de três horas, e por compromissos assumidos, tivemos que sair mas, viemos a saber posteriormente que, afinal, não teve lugar o debate.
Era necessário saber por exemplo qual o papel das comissões de pais em todo este processo? Numa sociedade competitiva e capitalista como foi referido, há disponibilidade por parte do estado e das empresas para reduzir os horários laborais para que as crianças não sejam submetidas à referida violência de carga horária? Será este processo o da "formatização" das crianças para esta sociedade? O brincar hoje, por hoje está reduzido ao smartphone, tablet, videojogos e computadores? Há condições hoje para que as crianças possam brincar na rua em plena segurança ou, antes pelo contrário, sentem-se mais seguras frente aos computadores com todos os perigos a que estão expostas?
Ou será por último, que estamos apenas a olhar para o nosso umbigo, esquecendo que, segundo a ONU, há mais de 30 milhões de crianças no Mundo sem o mínimo dos seus direitos básicos.
Penso que o debate seria propício para isso mesmo: Apontar caminhos e não fazer uma revisitação ao passado, sempre de grande relevância mas, temos que encarar o presente e o futuro, encontrando soluções.
Seria essa a finalidade do colóquio/debate. Penso que sim. Só que perdeu-se essa oportunidade, segundo o meu ponto de vista.