Quem o diz é o
investigador Miguel Castanho, que alerta ainda para paralelismos precipitados
da situação actual com a segunda vaga de Gripe Espanhola, em 1918 Investigador
lamenta a inexistência de um plano pró-activo estratégico de mitigação.
Os primeiros resultados dos testes em humanos de várias
vacinas contra a Covid-19 mostraram alguns efeitos secundários, como dores de
cabeça e desmaios. Para Miguel Castanho, investigador principal do Instituto de
Medicina Molecular João Lobo Antunes (IMM) e Professor da Faculdade de Medicina
da Universidade de Lisboa, esta informação não é, por si só, um indicador de
insucesso do desenvolvimento da vacina já que apesar de “os primeiros testes de
vacinas e medicamentos serem feitos em indivíduos saudáveis, o aparecimento de
efeitos secundários deste tipo é relativamente frequente e não compromete o
desenvolvimento dos projectos, embora obriguem a afinar estratégias e a
introduzir melhorias até que a formulação final seja segura. São ocorrências
desta natureza, a par de outras dificuldades frequentes, que levam a que o
desenvolvimento de uma vacina tome, em média, 15 anos no total”. Para o
investigador, no caso da vacina contra a Covid-19 e tendo em conta os
resultados conhecidos até agora, o que poderá estar em causa é “o
desenvolvimento excepcionalmente rápido de uma vacina segura”.
As mais recentes notícias apontam para a comercialização de
uma vacina já a partir do mês de Setembro e, inclusivamente, a China acaba de
comunicar a aprovação de uma vacina para uso exclusivo dos seus militares.
Estas parecem ser boas notícias, mas a verdade é que existe ainda uma
desconfiança sobre a verdadeira eficácia destas ‘soluções relâmpago’, se
tivermos em conta que o período normal para o seu desenvolvimento é superior a
uma década. Por isso, Miguel Castanho afirma que “o desenvolvimento muito
rápido de uma vacina contra a Covid-19 vai exigir uma apresentação muito
transparente sobre a eficácia e segurança da mesma, sobretudo para quem mais
precisa de ser protegido: a população de idade mais avançada”.
Apesar disto, a urgência de uma cura para o novo coronavírus
parece ser cada vez maior, sobretudo numa altura em que a ameaça de uma segunda
vaga é cada vez mais discutida. A OMS e vários especialistas já alertaram para
esta possibilidade, que pode chegar mesmo antes do inverno. Actualmente,
“assistimos a um aumento do número de casos explicável pelo desconfinamento.
Podemos ter a infelicidade de no próximo inverno surgir uma estirpe mais nociva
do vírus SARS-CoV-2, mas nada aponta para que assim seja”. Miguel Castanho
recorda o exemplo devastador da segunda vaga da Gripe Espanhola mas considera comparações
directas precipitadas. “No Outono de 1918, em algumas áreas geográficas,
começaram a surgir focos de gripe com uma mortalidade superior e atacando
sobretudo adultos jovens. Crê-se que se tratou de uma nova estirpe do vírus,
mais perigosa, que surgiu precisamente com o início do inverno, quando a
fisiologia respiratória está mais fragilizada. Esta conjugação de factores,
aliada à debilidade das tecnologias médicas da altura, teve consequências
trágicas. Não é o que estamos a viver agora, e estes acontecimentos não são
directamente extrapoláveis para a COVID-19, mas devem deixar-nos alerta.”
Sobre aumento do número de casos em Portugal após o
desconfinamento, Miguel Castanho acredita que inicialmente “foi o sentimento de
medo que assegurou a disciplina verificada durante a quarentena. Os exemplos de
Espanha e Itália eram elucidativos. A disciplina do confinamento desse período
inicial conteve, de facto, a expansão das infecções virais”. Contudo,
actualmente “passámos da euforia triunfalista dos primeiros tempos a um
sentimento de incredulidade. Não existe um plano de acção fixado pela positiva para
encontrar as verdadeiras causas dos focos existentes e, por consequência, não
há planeamento sólido de estratégias de mitigação. Faltam medidas pró-ativas
assumidas para melhor caracterizar e combater o que está a suceder. Ser
proibicionista não basta”.